Superando e enfrentando o LUTO

 



O que é luto?

Luto é um processo natural de reação emocional diante de uma perda significativa, que pode se relacionar com pessoas, coisas e situações. É o processo de readaptação da realidade diante de uma perda significativa, que pode se relacionar a pessoa, coisas ou situações.

O luto relacionado a pessoas, geralmente acontece quando se trata da perda de alguém muito próximo, seja um parente, amigo ou de outros graus de relacionamento.

Apesar de quase sempre associarmos o luto ao fato de um falecimento, ele também pode ser sentido diante de um divórcio, namoro, rompimento de uma amizade antiga, perda de objetos muito importantes como um computador perdido com anos de trabalho sem “back up”, um membro amputado, dentre outros motivos.

Geralmente sentimos tristeza quando perdemos alguém ou alguma coisa muito importante, mas o luto é um processo mais profundo e complexo cujo período de adaptação à ausência e de elaboração da dor, se manifesta de forma individual.

 

Quais são as fases de enfrentamento do luto?

De acordo com o manual de Tanatologia, desenvolvido pelo Conselho Regional de Psicologia no Paraná, o luto compõe algumas fases:

 

Reação de choque ou torpor:

Estado de prostração, abatimento diante da notícia sobre uma perda significativa.

 

Negação:

É quando a pessoa nega a realidade e não aceita a perda de jeito nenhum, distorcendo os fatos ou se comportando como se não estivesse acontecendo aquela situação.

Nesse caso ela se refugia no engano de que aquela pessoa, situação ou bem possa retornar, e assim vive em estado de “mumificação” das coisas que a fazem lembrar com constância, mergulhando cada vez mais no sofrimento.

Também é possível negar a perda justificando com um significado como a redução / falta de sentimento.

Uma outra forma de negar é se desfazer de tudo que lembre a pessoa / situação de luto rapidamente, como se fosse amenizar sua dor. É o oposto da “mumificação”. Se desfazer é necessário, mas não tão rapidamente.

No entanto, esse luto não elaborado pela falta de enfrentamento faz com que a pessoa leve mais tempo para sair dele.

Busca reverter a falta de contato  no caso de falecimento, muitas vezes buscando religiões que prometam contato pós-morte.

 

Raiva:

Irritabilidade pela ocasião de luto vivida, “descontando” inclusive em outras pessoas em muitos momentos.

 

Barganha:

É quando a pessoa faz negociações consigo mesmo e até com Deus como se pudesse reverter a situação, pensando por exemplo no que ela poderia ter feito de diferente para evitar a perda. É como se fosse uma negociação entre o passado e presente, como se fosse possível mudar o futuro.

 

Depressão:

Tristeza e pesar pela perda de forma tão profunda que a pessoa deixa de fazer as coisas comuns do dia a dia, mesmo depois de algum tempo do ocorrido, se entregando à dor.´

 

Aceitação:

É o fim do processo, ou seja, significa que o luto foi bem elaborado.

Apesar de sentir falta, dor, tristeza, e muita saudade, a pessoa entende que sua vida não pode parar e tenta seguir a vida.

Não significa que a pessoa não esteja mais sentido dor, mas que ela entendeu que a morte ou perda não tem o seu controle. É a compreensão de que ela ficou e precisa seguir, por mais difícil que seja. A saudade sempre existirá, mas não doerá mais, como uma cicatriz que sarou.

Nessa fase ela aceita que não há nada a ser feito e que não poderá reaver tal pessoa ou situação.

 

O tempo do luto

O luto é muito individual e em alguns momentos da vida passaremos por isso. Ele pode durar de 3 meses a 1 ano em média, podendo se estender por mais tempo.

No primeiro ano costuma ser o tempo mais difícil pois é quando se experiencia a ausência em datas importantes como aniversário, Natal, ano novo, etc.

Alguns fatores podem influenciar esse tempo, além da reação pessoal mesmo. O grau de proximidade da pessoa que faleceu, de importância do objeto ou situação perdida podem gerar outros problemas junto com o luto não elaborado.

É importante frisar também que, o tempo de duração não se relaciona com a profundidade da dor.

 

Como ajudar?

 

O primeiro passo é não julgar pelas aparências nem falar ou fazer algo que não convenha.

O segundo passo é se colocar no lugar do outro, ainda que você não seja tão próximo da pessoa que ela perdeu, ou que não tenha noção do quanto ela, objeto ou situação que perdeu era importante.

Deixe a pessoa chorar e não a repreenda. 

Não fique falando, falando, falando e apenas dê o seu ombro para ela apoiar e saber que você está com ela. É importante dar tempo ao tempo e não forçar a barra para mudar fases repentinamente, entendendo que há tempo para todas as coisas. Cada pessoa precisa de um tempo para elaborar sua dor.

Com o acompanhamento da rede de apoio, que pode ser formada pelos familiares mais próximos e amigos, é possível então ir observando ao longo dos dias e até meses, o nível de reação e comprometimento dos seus compromissos diários, ajudando no que for necessário.

Torna-se imprescindível ajudar nas atividades diárias como por exemplo tarefas domésticas, refeições e até pequenos incentivos, além de observar o nível de prejuízo da culpa por exemplo, e de outros sentimentos e pensamentos negativos para que esse processo passe de forma saudável.

O luto não elaborado a longo prazo pode vir acompanhado de um estado depressivo profundo, doenças físicas e até alguns transtornos psíquicos, abandono de rotinas que outrora davam prazer, e dificuldade para lidar com perdas posteriores. Nesse caso a rede de apoio precisa estar mais fortalecida ainda e unida para concederem em comum acordo o suporte espiritual com um pastor ou outra pessoa da confiança dela e acompanhamento emocional com um psicólogo. Dependendo da gravidade, é importante até mesmo acompanhamento médico psiquiátrico, onde este poderá medicar e/ou suplementar para recuperar vitaminas baixas e alguns neurotransmissores ligados ao bem-estar e motivação.

 

Refletindo sobre nosso comportamento diante da dor do outro

Em alguns momentos da vida participei de velórios e sepultamentos de pessoas que eu amava muito, e também de pessoas que eu pouco conhecia mas fui para demonstrar carinho aos seus familiares. No entanto, mesmo sem sentir tanto a dor dessas pessoas, é necessário nos colocarmos no lugar delas, e nos comportarmos de maneira adequada.

Não é necessário fingirmos tristeza nem choro, e ainda que nossa intenção seja das melhores a fim de quebrar o clima pesaroso, precisamos respeitar e termos bom senso. Devemos evitar conversarmos alto, e muito menos rirmos. Já vi essa situação na casa da pessoa que está de luto e até mesmo no velório e é uma situação muito deselegante.

Também muitas vezes achamos que devemos falar qualquer coisa para fazer valer o nosso apoio e atrapalhamos ao invés de ajudarmos. Por exemplo quando uma mãe perde seu bebê ainda na gestação, há um luto. Apesar do bebê não ter nascido, é um filho perdido e ainda que possa ter outros filhos, dizer que vai passar e ela poderá ser feliz com outros que nascerão não vai animá-la.

Seja qual for o tipo de perda, não fique perguntando o que aconteceu, nem como, principalmente querendo saber detalhes, se a pessoa não está em condições para isso. Às vezes a pessoa até responde mas para não desapontar quem perguntou. Seja coerente! Até porque, fazê-la lembrar será mais difícil. Além disso, imagina ter que responder isso a cada pessoa que pergunta?

Cada pessoa tem uma forma de elaborar o luto e nem sempre o choro público estará presente.

Você pode abraçar, ou segurar as mãos dessa pessoa, e dizer que você está disponível para ouvi-la caso deseje conversar, desabafar ou apenas chorar. Assim a pessoa falará ou não. E caso fale, evite ficar interrompendo e apenas ouça

Um abraço em silêncio apenas com uma frase do tipo "nem sei o que dizer", diz muito mais do que muitas palavras.

Se você tem o hábito de falar demais, cuidado! Essa não é uma boa hora pra falar muito nem perguntar tanto.

Se não sabe o que dizer, não diga nada! O fato de estarmos com alguém, não significa que precisemos dizer algo. Caso considere que realmente deva dizer algo, seja breve. 

 

Nossa presença pode fazer diferença na vida de alguém

Já ouvi muitas pessoas dizerem que não vão à velórios e sepultamentos porque não gostam, mas alguém gosta? A gente vai pra dar apoio às pessoas que estão de luto, e não pra quem morreu, e certamente nossa presença pode fazer muita diferença.

Também não faz sentido deixar de apoiar quem amamos pelo fato de não conhecermos a pessoa que era importante pra ela e partiu. Nosso apoio é pra quem fica.

Seja qual for a situação, caso possa e deseje visitar, você pode ir ao velório e/ou sepultamento e/ou na casa da pessoa.

Se for possível demonstrar acolhimento de forma presencial, faça bom proveito do abraço que muitas vezes serve como um remédio. Mas não sendo possível, envie uma mensagem de condolências. Toda demonstração do seu apoio é válido.

Podemos ser breve por exemplo  dizendo: "Estou aqui para o que você precisar. E quando quiser conversar sobre o ocorrido e até mesmo compartilhar sobre momentos bons ou dolorosos, não se sinta constrangida!"

Se mostre presente porque se você se comprometer e sumir, ficará evidente que foram apenas palavras vazias. Coloque-se à disposição e volte sempre que possível para relembra-la sobre sua disponibilidade e interesse por aproximação.

 

Entre guardar e se desfazer do enxoval

Esse é um dos momentos mais difícil da pessoa próxima a alguém que faleceu. É muito importante que aquele quarto seja desfeito e o cérebro comece a criar uma nova perspectiva. Em muitos casos isso não será rápido, mas também não deve levar anos.

É de suma importância guardar uma caixa por exemplo, com recordações da pessoa que partiu, mas ter um quarto inteiro intacto por exemplo, pode ser prejudicial pra elaboração do luto. Não é necessário jogar fora, mas é possível doar a alguém necessitado e assim se sentir contribuindo também.

Geralmente as pessoas se sentem culpadas ao se desfazer das coisas do ente querido, como se a pessoa falecida estivesse vendo e achando que ela estaria desprezando-o. De acordo com a bíblia os mortos estão dormindo, então não há motivos para nos sentirmos mal por esta atitude. Todavia, quem está nesse lugar de fato tem uma missão difícil, então apesar de ajudarmos a trazer clareza a ela sobre isso, temos que ter empatia, podendo até nos oferecermos para ajudar e até fazermos sozinhos, caso ela não consigo e deseje, claro!

  

Conclusão:

 

·         Demonstre seu apoio ( mesmo que somente virtualmente seja possível );

·         Não julgue os motivos envolvidos na dor, ainda que não compreenda;

·         Haja de forma coerente com o momento;

·         Ouça mais e fale o mínimo possível;

·         Ofereça ajuda concreta e realmente faça o que se comprometer;

·         Respeite o tempo dela;

·         Incentive nos momentos oportunos;

·         Se possível faça parte da rede de apoio ou um suporte para a rede de apoio dela.

·         Caso necessário, oriente a busca por ajuda espiritual, emocional e até médica.

 

Referência bibliográfica:

 

·         Apostila “Imersão: o luto na visão sistêmica” – Logos terapia e estudos da família;

·         Cartilha de orientação ao luto parental.

 

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